Monthly Archives: November 2021

Video 4 – Pedro Cesarino

Narrativa e queda em abismo: Lévi-Strauss entre a etnologia e a literatura I

Nascido em São Paulo em 1977, Pedro Cesarino é mestre e doutor em antropologia do Museu Nacional no Rio de Janeiro. Atualmente é pesquisador e professor de antropologia da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) na Universidade de São Paulo. Sua tese de doutorado Oniska: Poética do xamanismo na Amazônia, ganhou o Prêmio Jabuti de Ciências Humanas. Em 2013, publicou Quando a Terra deixou de falar: cantos da mitologia marubo, uma coletânea de mitos traduzidos para o português.

Neste curto trecho da interessantíssima conferência que ele deu no nosso encontro Tristes Trópicos: Leituras de Lévi-Strauss o Pedro faz algumas reflexões acerca de suas duas obras acima mencionadas.

Video 3 – Lívia Melzi

Ainda sobre o manto tupinambá

Fotografado por Lívia Melzi

No fragmento a seguir, retirado de uma conferência dada durante o encontro Tristes Tropiques: Leituras de Lévi-Strauss, Lívia Melzi, doutoranda da Universidade de Zurique, nos conta un pouco sobre o seu aproximar-se tateante aos mantos tupinambá. Oceanógrafa de formação e mestra em fotografia e arte contemporânea, a obra da Lívia busca elucidar, através da fotografia, mecanismos de dominação com respeito a obras de arte, com um olhar focalizado à praticas de representação durante a época colonial do Brasil (veja também o site oficial da fotógrafa).

A luta dos Yanomami

Ao longo de cinco décadas, a fotógrafa Claudia Andujar (nacida em 1931) dedicou sua vida e obra às comunidades indígenas Yanomami da região amazônica do Norte do Brasil. No final da década dos anos 70, quando a comunidade se viu submetida a severas ameaças externas, a fotógrafa de origem suíça e agora radicada em São Paulo, começou a lutar pelos direitos dos Yanomami. Em seguida, Claudia se integrou à comunidade, aprofundando assim suas relações com eles.

Sua batalha de quatorze anos ao lado do líder Yanomami Davi Kopenawa levou à demarcação oficial das terras da comunidade em 1992. Hoje, os esforços ativistas de Andujar são tão relevantes como sempre – como é sublinhado por eventos atuais, como o desmatamento contínuo e destruição ambiental causada pela mineração e pecuária, violações dos direitos humanos na região ou a diffusão da malária e COVID-19.

À obra de Andujar o Fotomuseum Winterthur faz homenagem com a exposição Claudia Andujar: A Luta Yanomami, que é baseada em dois anos de pesquisa no arquivo de Andujar reunindo fotografias, instalações audiovisuais, e desenhos Yanomami. Estes últimos são fac-símiles de desenhos produzidos pela comunidade yanomami graças à iniciativa de Andujar. De fato, chegou um momento em que a fotógrafa percebeu que sua fotografia não pudesse captar toda a cosmovisão da comunidade indígena. Por esse motivo, ela começou distribuir papel e lápis entre eles. Assim, por primeira vez os yanomami começaram se exprimir de forma gráfica. Portanto, esta exposição é a primeira grande retrospectiva dedicada à obra da ativista brasileira, sobrevivente do Holocausto, que dedicou sua vida a fotografar e defender os Yanomami.

Não temos direitos enquanto às fotografias aqui reproduzidas. Todas as imagens foram descargadas do sites oficial da exposição, portanto, todos os direitos com respeito a elas pertencem aos proprietários respetivos.

Sem fé, sem lei, sem rei…

O primeiro contato que Lévi-Strauss fez com os Bororo (Lévi-Strauss 1957:224) o fez lembrar do enunciado que escolhemos como título desta postagem. Ele diz:

Atracámos, tentámos conversar: só conhecem uma palavra de português: fumo, que pronunciam sumo.‘

Portanto, os índios aparentemente não incluem o som f em seu sistema fonético. Como o próprio antropólogo afirma, esta observação ja fora feita por antigos missionários, mais especificamente por Pero de Magalhães Gândavo em seu Tratado da terra do Brasil que data do ano 1573. Segundo ele, os índios eram sem fé, sem lei, nem rei, já que lhes faltaram os três fonemas f, r e l.

Um Bororo fotografado por Claude Lévi-Strauss.

Ora, esta observação feita tanto por um missionário como por um antropólogo nos é apresentada, a nos os leitores, sem mais nada: nenhuma explicação por parte dos autores, nem sequer um indício de que eles mesmos teriam se perguntado pelo motivo desse fato linguístico.

No entanto, há nem 2 anos um grupo de linguistas da Universidade de Zurique apresentaram num artigo os resultados de uma pesquisa fascinante (Blasi et al. 2019). Investigando os diferenetes sistemas fonéticos da humanidade, estes pesquisadores partiram da noção de que a ocorrência ou não de um dado fonema depende de quão fácil seria de ser pronunciado. Em consequência, qualquer mudança fisiológica do aparato humano de produção de fala, por exemplo da maxila, influiria na produção de sons, segundo eles.

Paleoanthropological evidence suggests that the production apparatus has undergone a fundamental change of just this kind since the Neolithic. Although humans generally start out with vertical and horizontal overlap in their bite configuration (overbite and overjet, respectively), masticatory exertion in the Paleolithic gave rise to an edge-to-edge bite after adolescence. Preservation of overbite and overjet began to persist long into adulthood only with the softer diets that started to become prevalent in the wake of agriculture and intensified food processing. We hypothesize that this post-Neolithic decline of edge-to-edge bite enabled the innovation and spread of a new class of speech sounds that is now present in nearly half of the world’s languages: labiodentals, produced by positioning the lower lip against the upper teeth, such as in “f” or “v.”

A saber, as descobertas do grupo revelam que a transição de sociedades caçadores-coletores pré-históricas a sociedades mais sedentárias que se dedicam à agricultura teve um impacto no aparato da fala humana. Em vista, pois, das culturas indígenas do Brasil terem sido principalmente forrageadoras, fato que começou mudar só com a chegada dos europeus, essa observação feita por Lévi-Strauss adquire um peso muito mais significativo. Pois, essa mudança cultural ressoa ainda no título duma obra que ele escreverá mais afrente: o cru e o cozido.

Video 2 – Lívia Melzi

Sobre o acaso e gestos desapercebidos

Neste curto trecho de sua apresentação durante o nosso encontro Leituras de Lévi-Strauss, a Lívia Melzi nos da uma pequena ideia de como ela concebe uma pesquisa. Resulta que o „velho antropólogo“ nos apresenta em Tristes Trópicos alguns métodos de como pôr mãos a uma obra qualquer, no caso da Lívia Melzi é o trabalho dela com os mantos tupinambá.

A Lívia Melzi sobra sua pesquisa.

Video 1 – Célia Tupinambá

Assojoba tubinambá: fotografia e renascimento

Durante o nosso encontro Tristes Trópicos: Leituras de Lévi-Strauss em outubro tivemos a grande honra de receber a Célia Tupinambá, artista e liderança indígena que, juntos à Lívia Melzi, fotógrafa e doutoranda da Universidade de Zurique, nos levou numa viagem artística que culminara na exposição Kwá yapé turusú yuriri assojaba tupinambá | Essa é a grande volta do manto tupinambá, ainda em funcionamento na Casa da Lenha, em Porto Seguro até o dia 27 de novembro 2021. A apaixonante apresentação demonstra que através da arte e pesquisa se podem forjar alianças muito significativas e que, neste caso, levaram à re-descoberta dos mantos tubinambá para um público mais amplo.

Célia Tupinambá sobre os mantos tupinambás.