Uma boca de banguela

No capítulo que precede o relato de sua estadia no Rio de Janeiro, A calmaria, Claude Lévi-Strauss antecipa sua opinião sobre a cidade maravilhosa da seguinte forma:

Depois disso, sinto-me ainda mais embaraçado para falar do Rio de Janeiro, que me desagrada, apesar de sua beleza celebrada tantas vezes. Como direi? Parece-me que a paisagem do Rio não está à altura de suas próprias dimensões. O Pão de Açúcar, o Corcovado, todos esses pontos tão enaltecidos lembram ao viajante que penetra na baía cacos perdidos nos quatro cantos de uma boca desdentada. Quase constantemente submersos no nevoeiro sujo dos trópicos, esses acidentes geográficos não chegam a preencher um horizonte vasto demais para se contentar com isso. Se quisermos abarcar o espetáculo, teremos que atacar a baía pela retaguarda e contemplá-la das alturas. Perto do mar e por uma ilusão contrária à de Nova York, aqui é a natureza que se reveste de um aspecto de canteiro de obras.

Em 1989 Caetano Veloso retoma essa descrição do antropólogo francês para fazer-lhe uma homenagem numa belíssima música: O Estrangeiro. Numa entrevista com a Globo ele afirma que „para mim foi muito grande. Ler „Tristes Trópicos“ me levou a pensar muitas coisas sobre nosso país de um modo que não seria possível antes„.

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