Archives de catégorie : programa

Aula 1 (20.02) – Fim e fins do mundo: introdução ao tópico da Amazônia.

A partir da leitura de Ideias para adiar o fim do mundo (2019), de Ailton Krenak e da introdução de Eduardo Viveiros de Castro para a tradução brasileira de A queda do céu (“O recado da mata”, 2015) iremos discutir a relação entre tempo presente e tempo futuro face a um horizonte de catástrofes. A Amazônia como método e técnica literárias. A Amazônia e a Modernidade.

Leitura para preparar: Eduardo Viveiros de Castro “O recado da mata”. In: Albert, Bruce / Kopenawa, Davi (2015): A queda do céu: Palavras de um xamã yanomami, trad. Beatriz Perrone-Moisés, 1ª ed., São Paulo: Companhia das Letras, pp. 11-41.


Referências da aula:

Albert, Bruce / Kopenawa, Davi (2010): La chute du ciel: Paroles d’un chaman yanomami, Paris: Librairie Plon.

— (2015): A queda do céu: Palavras de um xamã yanomami, trad. Beatriz Perrone-Moisés, 1ª ed., São Paulo: Companhia das Letras.

Lima, Luiz Costa (1989). « Uma questão da modernidade : o lugar do imaginário ». Revista USP. Março-Maio. São Paulo, Universidade de São Paulo, p. 44-57.

Krenak, Ailton (2019). Ideias para adiar o fim do mundo. São Paulo, Companhia das Letras, 2019.

— (2015). Org. Cohn, Sergio. Encontros. Rio de Janeiro, Azougue, 2015. 

Aula 2 (27.02) – A queda do céu: literatura e mito I

Força e fragilidade do canto: perspectivas do encantamento, do desencantamento e do reencantamento. Diferenças estruturais e aproximações semânticas entre literatura e mito a partir da leitura de A queda do céu.

Leitura para preparar: Capítulos: “Palavras dadas”, “Desenhos de escrita”, “O primeiro xamã”, “O olhar dos xapiri”. In: Albert, Bruce / Kopenawa, Davi (2015): A queda do céu: Palavras de um xamã yanomami, trad. Beatriz Perrone-Moisés, 1ª ed., São Paulo: Companhia das Letras, pp. 63-109.


Referências da aula:

Albert, Bruce / Kopenawa, Davi (2010): La chute du ciel: Paroles d’un chaman yanomami, Paris: Librairie Plon.

— (2015): A queda do céu: Palavras de um xamã yanomami, trad. Beatriz Perrone-Moisés, 1ª ed., São Paulo: Companhia das Letras.

Aula 3 (05.03) – Imagens do pensamento selvagem e perspectivismo ameríndio: literatura, multiplicação dos pontos de vista.

O que é a cosmopolítica. A crítica cosmopolítica da civilização ocidental. A harmonia do mundo e o silêncio dos vencidos. O lado de fora do moderno: a invenção do primitivo e do arcaico.

Leituras para preparar: Lévi-Strauss, Claude (1989): « A ciência do concreto ». O pensamento selvagem, Trad. Tânia Pellegrini. São Paulo: Papirus, p. 15-49 ; Viveiros de Castro, Eduardo (1996). “Os pronomes cosmológicos e o perspectivismo ameríndio”. Mana 2 (2): Rio de Janeiro, p. 115-144; Albert, Bruce / Kopenawa, Davi (2015): « O pacto etnográfico » A queda do céu: Palavras de um xamã yanomami, trad. Beatriz Perrone-Moisés, 1ª ed., São Paulo: Companhia das Letras, pp. 520-549.


Referências da aula:

Lévi-Strauss, Claude (1989): O pensamento selvagem, Trad. Tânia Pellegrini. São Paulo: Papirus.

Viveiros de Castro, Eduardo (1996). “Os pronomes cosmológicos e o perspectivismo ameríndio”. Mana 2 (2): Rio de Janeiro, p. 115-144.

— (2019). Politique des multiplicités. Pierre Clastres face à l’État. Trad. Julien Pallota. Paris, Éditions Dehors.

Albert, Bruce / Kopenawa, Davi (2010): La chute du ciel: Paroles d’un chaman yanomami, Paris: Librairie Plon.

— (2015): A queda do céu: Palavras de um xamã yanomami, trad. Beatriz Perrone-Moisés, 1ª ed., São Paulo: Companhia das Letras.

Aula 4 (12.03) – Meu destino é ser onça: uma pedagogia selvagem.

Interpretar a onça: interseção entre mito e literatura. Estratégias literárias: contar histórias à maneira do mito. Uma pedagogia selvagem deve considerar as estruturas e as variações dos mitos onde nada é fixo, tudo, todas e todos se transformam.

Leituras para preparar e referências da aula:

Mussa, Alberto (2009): Meu destino é ser onça, 2ª ed., Rio de Janeiro: Record.
Stigger, Veronica (2015). Onde a onça bebe água, São Paulo: Cosac Naify.

Aula 5 (19.03) – A flecha e a forja. Longe da história, perto do inferno

Perspectiva histórica da Amazônia a partir de dois ensaios, Inferno Verde (1908), de Alberto Rangel, e dos estudos de Euclides da Cunha sobre a região, “À margem da História” e “À margem da geografia”, publicados sob a forma de quatro artigos em O País e em O Estado de São Paulo a partir da viagem do autor à Amazônia em 1905 e depois reproduzidos no livro Contrastes e confrontos (1907).

Naqueles lugares, o brasileiro salta: é estrangeiro: e está pisando terras brasileiras. Antolha-se-lhe um contra-senso pasmoso: à ficção de direito estabelecendo por vezes a extraterritorialidade, que é a pátria sem a terra, contrapõe-se uma outra: a terra sem pátria. É o efeito maravilhoso de uma espécie de imigração telúrica. A terra abandona o homem. Vai em busca de outras latitudes. E o Amazonas, nesse construir o seu verdadeiro delta em zonas tão remotas do outro hemisfério, traduz, de fato, a viagem incógnita de um território em marcha, mudando-se pelos tempos adiante, sem parar um segundo, e tornando cada vez menores, num desgastamento ininterrupto, as largas superfícies que atravessa.[1]

Leitura para preparar:
Rangel, Alberto (2008): Inferno Verde: Cenas e Cenários do Amazonas, 6ª ed., Manaus: Valer.


Referências da aula:

Rangel, Alberto (2008): Inferno Verde: Cenas e Cenários do Amazonas, 6ª ed., Manaus: Valer.

Cunha, Euclides da (2019). À margem da história. Org. Bernucci, Leopoldo M., Foot Hardman, Francisco ; Rissato, Felipe Pereira. São Paulo, Editora Unesp.

[1] Cunha, Euclides da (1995): “À margem da história”. Obras Completas. Vol. 1. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, p. 254.

Aula 6 (26.03) – Iracema, Xana e o espelho do subdesenvolvimento.

No primeiro tempo, os brancos estavam muito longe de nós. Ainda não tinham trazido o sarampo, a tosse e a malária para nossa floresta. Nossos ancestrais não adoeciam tanto quanto nós, hoje. Gozavam de boa saúde a maior parte do tempo e, quando morriam, as fumaças de epidemia não sujavam seus fantasmas. Agora, quando alguém morre de doença de branco, até seu espectro é infestado e volta para as costas do céu com febre. Seu sopro de vida e sua carne ficam contaminados até lá! Antes, tampouco ficávamos doentes todos ao mesmo tempo. As pessoas não morriam tanto! (…) Assim era. As pessoas só morriam de vez em quando.[1]

O fragmento de A queda do céu será analisado à luz das figuras do subdesenvolvimento da Amazônia. Fragmentos do filme Iracema, uma transa amazônica, de 1975, e Xana, romance-reportagem de Orlando Sena, de 1979, serão apresentados e discutidos para a compreensão das estruturas narrativas e das histórias de outras passagens pela região. 

Leituras para preparar: Seleção de trechos (Olat) de Senna, Orlando (1979): Xana: Violência internacional na ocupação da Amazônia, vol. 65, Rio de Janeiro: Codecri.


Referências da aula:

Filho, João Meireles (2011). Grandes expedições à Amazônia brasileira. Século XX. São Paulo : Metalivros.

Senna, Orlando (1979): Xana: Violência internacional na ocupação da Amazônia, vol. 65, Rio de Janeiro: Codecri.

Raponi, Livia (Org.) (2016). A única vida possível. Itinerários de Ermanno Stradelli na Amazônia. São Paulo : Editora da Unesp.

[1] Albert, Bruce ; Kopenawa, David (2015): A queda do céu. Trad. Beatriz Perrone-Moisés. São Paulo, Companhia das Letras, p. 224.

Aula 7 (02.04) – Ford e o fungo: a borracha e as ruínas de Fordlândia.

O motor e a borracha. Ford e a Amazônia. Látex e a campanha sanitária na floresta. Amazônia: “o grande celeiro do mundo” Alexander von Humboldt. O Amanhã como destino: a borracha e a migração da mão-de-obra. Ford e o fungo: ascensão e queda de um império (1920 – 1945). 

Leituras para preparar: Seleção dos textos das referências da aula – Olat


Referências da aula:

Bueno, Alexei / Mascar, Cristiano (2014): Palácios da Borracha: Arquitetura na Belle Époque Amazônica, Rio de Janeiro: Instituto Cultural Sergio Fadel.
Grandin, Greg (1962): Fordlandia: The Rise and Fall of Henry Ford’s Forgotten Jungle City, 1ª ed., New York: Henry Holtand Company.

Aula 8 (09.04) – Poéticas do xamanismo: literatura e mito II

Crítica da razão xamânica. A construção da pessoa nas sociedades indígenas brasileiras (Seeger, Da Matta, Viveiros de Castro). “Todo esforço de compreensão de uma outra cultura deve ao menos começar com um ato de invenção” (Roy Wagner citado por Pedro Cesarino).

Leituras para preparar: Seleção do romance Rio Acima, de Pedro Cesarino e Da Matta, Roberto ; Viveiros de Castro, Eduardo B. ; Seeger, Anthony (1979) : « A construção da pessoa nas sociedades indígenas brasileiras. » Boletim do Museu Nacional, n. 32. Rio de Janeiro, p.2-19.


Referências da aula:

Cesarino, Pedro de Niemeyer (2011): Oniska: poética do xamanismo na Amazônia, São Paulo: Perspectiva: Fapesp.

— (2016): Rio acima, 1ª ed., São Paulo: Companhia das Letras.

Lévi-Strauss, Claude (1962): La pensée sauvage, Paris: Librairie Plon.

Lévi-Strauss, Claude (1989): O pensamento selvagem, Trad. Tânia Pellegrini. São Paulo: Papirus.

Da Matta, Roberto ; Viveiros de Castro, Eduardo B. ; Seeger, Anthony (1979) : « A construção da pessoa nas sociedades indígenas brasileiras. » Boletim do Museu Nacional, n. 32. Rio de Janeiro, p.2-19.

Aula 9 (23.04) – Vozes da floresta fora da floresta: André Vallias, Sergio Medeiros, Josely Vianna Baptista.

É preciso deter-se sobre o fenômeno da voz: a oralidade e as culturas ágrafas valorizam a variação a qual é fundamental para a sobrevivência dos mitos. Nesta aula estudaremos versões de “A queda do céu” na perspectiva guarani, apresentadas e traduzidas por Josely Vianna Baptista, o poema “Totem”, de André Vallias, e o poema dramático de Sérgio Medeiros em O fim de tarde de uma alma com fome.

Leituras para preparar: seleção de trechos (Olat) de: Baptista, Josely Vianna (2011). Roça barroca. São Paulo. Cosac Naify e Medeiros, Sergio (2015) : O fim de tarde de uma alma com fome. Variações sobre um ou dois temas indígenas. São Paulo, Iluminuras.


Referências da aula:

Baptista, Josely Vianna (2011). Roça barroca. São Paulo. Cosac Naify.

Castres, Hélène (2003). « Como vivem os mitos. Reflexões sobre a mitologia guarani ». Baptista, Josely Vianna ; Faria Francisco (Org.). Musa Paradisíaca, Florianópolis, Mirabilia, p. 642-648.

Lienhard, Martin (2003). La voz y su huella: escritura y conflicto étnico-social en América Latina, 1492 – 1988. México, Ediciones Casa Juan Pablos.

Medeiros, Sergio (2015) : O fim de tarde de uma alma com fome. Variações sobre um ou dois temas indígenas. São Paulo, Iluminuras.

——— (2009) : Tótem & sacrificio (poemas o prosas). Asunción: Jakembó Editores.

——— (2002): Makunaíma e Jurupari: cosmogonias ameríndias. São Paulo: Perspectiva.

Vallias, André (2014). Totem. Meiembipe: Cultura e Barbárie, 2014.

Aula 10 (30.04) – Uma ciência nova: alianças de e com pensadores indígenas e práticas do mundo contemporâneo.

A aliança entre saberes institucionais e não-institucionais (conhecidos também por “saberes populares”). Novas mediações com o mundo para a redefinição de categorias até então fixas, “natureza” e “cultura”. Hipóteses sobre discursos para além da natureza e cultura (Philippe Descola) e pensadores indígenas tais como Ailton Krenak, Álvaro Tukano, Biraci Yawanawá, Eliane Potiguara, etc.

Leituras para preparar: Cohn, Sergio / Kadiwel, Idjahure (2019): Tembetá: conversas com pensadores indígenas, Rio de Janeiro: Azougue e Descola, Philippe (2015) : « Além da natureza e cultura ». Trad. Bruno Ribeiro. Tessituras. Revista de Antropologia e Arqueologia. V. 3, N. 1. Pelotas.


Referências da aula:

Cohn, Sergio / Kadiwel, Idjahure (2019): Tembetá: conversas com pensadores indígenas, Rio de Janeiro: Azougue.

Descola, Philippe (2015) : « Além da natureza e cultura ». Trad. Bruno Ribeiro. Tessituras. Revista de Antropologia e Arqueologia. V. 3, N. 1. Pelotas.

—(2010): Diversité des natures, diversité des cultures. Paris, Bayard.

— (2005): Par-delà nature et culture. Paris, Folio.