PODCAST 7 – Uma ciência nova

Uma ciência nova: alianças de e com pensadores indígenas e práticas do mundo contemporâneo.

A aliança entre saberes institucionais e não-institucionais (conhecidos também por “saberes populares”). Novas mediações com o mundo para a redefinição de categorias até então fixas, “natureza” e “cultura”. Hipóteses sobre discursos para além da natureza e cultura (Philippe Descola) e pensadores indígenas tais como Ailton Krenak, Álvaro Tukano, Biraci Yawanawá, Eliane Potiguara, etc. A proposta deste podcast consiste na leitura do texto da lei (capítulo VIII da Constituição Federal: Dos Índios) e um fragmento da entrevista de Ailton Krenak:

Quando você consegue ocupar esse lugar simbólico, da representação, você se potencializa para ocupar o lugar de fato, reivindicar o território, dizer: “isso aqui não é terra do branco, do fazendeiro, do banco, é terra dos meus ancestrais, dos meus antepassados. Eu vou viver aqui, quero viver aqui, ela tem significado para mim. Essa montanha é sagrada, ela tem um humor, ela fala; eu desperto pela manhã e vejo o semblante da montanha e sei se ela está feliz, irritada, bem, descansada, repousando. A montanha fala comigo, porque eu me reconheço nesse lugar. A hora que me tiram daqui e me jogam em qualquer canto eu não ouço mais a voz da montanha, e não escuto mais em que linguagem o rio está falando. Se eu não entendo a linguagem do rio, ela vira um esgoto para mim. Se a montanha não fala comigo, eu posso pegá-la e jogá-la em cima de um trem e manda-la para um depósito de minério qualquer”. Porque você despersonaliza a paisagem, tira o sentido, esvazia o sentido, esvazia o significado desta cosmovisão, dá um chute no castelo, e isso despenca. Se você não tem um imaginário, se você não ocupa um imaginário, se o seu coletivo não compartilha um espaço que é recriado o tempo todo pela alma, pelo espírito, pela cultura, pelo ambiente da visão, a visão da cultura, você está visando uma coisa totalmente miserável, que não tem sentido nenhum. Você foi jogado em qualquer lugar.

Sergio Cohn, Idjahure Kadiwéu. Tembetá. Conversas com pensadores indígenas. Rio de Janeiro, Azougue, 2019, p. 29-30