Marília Librandi é atualmente Leitora de Literaturas e Culturas Luso-Brasileiras da Universidade de Princeton, lê um fragmento de A queda do céu para os participantes do seminário Amazônia: imaginários da selva na litertura e nas artes. A leitura dela parte de uma pesquisa baseada nas imagens de rede, como rádio e meios de comunicação com os espírito xapiri: iscas acústicas na floresta poliglota yanomami. Fotografia: Claudia Andujar. Som: início do filme Xapiri (2012) e canto Yanomami « Ñaumu », no disco IHU (1996) de Marlui Miranda.
https://soundcloud.com/eduardo-jorge-393472897/yanomami-1-librandi/s-kx96rz4Ykcq
Archives de catégorie : podcasts
Podcast 4 – Poéticas do xamanismo: literatura e mito II
« O céu pesado e excessivamente azul, as nuvens que parecem despencar em minha cabeça. Meu corpo carregado de chumbo, como se ganhasse novas (e piores) pernas ao voltar mais uma vez para esse fim de mundo. Magno, o motorista, vem chegando para me cumprimentar. Ele abre a porta da picape preta e sorri com aquele ar de Zé Pelintra de fronteira, que eu já não tenho paciência para aturar. Diz que devo resolver o problema do combustível ainda hoje, enquanto ele ainda está à minha disposição para trazer os galões do outro lado da fronteira até a balsa, na beira do rio. Sei que lá os impostos são mais baixos, mas a gasolina também pode ser mais suja. »
Assim começa Rio acima, romance de Pedro Cesarino, literalmente na fronteira. Depois de passarmos por distintas experiências narrativas em Inferno Verde (1908), Xana (1979) e Fordlandia (2009) sabe-se mais ou menos que tipo de personagem aguarda o narrador, o motorista cujo nome é Magno e onde é o local que o narrador chama de “fim de mundo”. O narrador é um antropólogo que desembarca na Amazônia para cumprir uma missão que é encontrar o desfecho de um mito, a história do “pegador de pássaros”. A narrativa de Cesarino começa literalmente na fronteira, que é o título do primeiro capítulo.
Som: A arte dos Marubo. Museu do Índio Botafogo
https://soundcloud.com/eduardo-jorge-393472897/rio-acimawav/s-3rwvz6mxEkc
Podcast 3 – Ford e o fungo: Fordlândia e as ruínas da borracha.
No final do século XIX e, sobretudo, na primeira metade do século XX. A borracha foi uma base essencial tanto de um império tropical que viveu de commodities quanto o motor do sonho americano se considerarmos Henri Ford como um dos grandes aventureiros do capitalismo americano e a cidade que ele projetou e construiu na Amazônia: Fordlândia (1920-1945). Ford chega ao Brasil no momento em que a exportação da borracha entra em declínio, dado que a produção gumífera a partir de 1910 tem o monopólio asiático. No entanto, essa produção é fortemente mediada pelos ingleses no mercado internacional. O historiador americano Greg Grandin em Fordlandia. The Rise and Fall of Henry Ford’s Forgotten Jungle City, relata esta épica moderna do capitalista americano no espaço selvagem tropical.
https://soundcloud.com/eduardo-jorge-393472897/fordlandia-podcast-3wav/s-Uuvao9W6jZg
Podcast 2 – Fumaças da epidemia: Iracema, Xana e o espelho do subdesenvolvimento
A parte menos visível e mais letal do progresso: as figuras do subdesenvolvimento e as pessoas que vivem às margens, nos locais de extração de matérias-primas. Neste podcast, são lidas passagens de A queda do céu (as fumaças de epidemia) e de Xana – violência internacional na ocupação da Amazônia, de Orlando Senna, de 1979.
https://soundcloud.com/eduardo-jorge-393472897/podcast-amazonia2wav/s-SnyLdlDKFwv
Podcast 1 – Inferno Verde: Longe da história, perto do inferno.
Em 1908 é publicada a primeira edição de Inferno verde – Cenas e cenários do Amazonas.[1] Depois de percorrer as mitologias e textos escritos à maneira do mito, é preciso recuperar, por outro viés, esse espaço distante da história – entendida na perspectiva de uma concepção diacrônica e sequencial de fatos – e mais próxima da geografia: o que em geral seria uma distinção entre tempo e espaço. No entanto, o que há em Inferno Verde é um entrecruzamento entre história e geografia, entre camadas de tempo e de espaço. Bertrand Westphal, autor de A geocrítica (La Géocritique – Réel, Fiction, Espace), escreveu que “o espaço – e o mundo que nele se desdobra – é fruto de um simbolismo, de especulação, que é também um vislumbre cintilante do [que está] além e, ousamos dizê-lo, de um mundo imaginário”[2]Textos históricos sobre a Amazônia aos quais pertence Inferno verde desvelam mundos imaginários a partir de um forte contato com a realidade da floresta tropical.
[1] A estrutura da obra é relativamente moderna: são 11 narrativas que podem ser 11 contos ou 11 capítulos de um romance. O que merece ser ressaltado nessa obra é sobretudo a técnica da descrição, a caracterização de personagens simples, de acontecimentos banais e isolados no tempo, mas profundamente abertos e que ainda sobrevivem às estruturas subdesenvolvidas do presente como será discutido posteriormente a partir do filme Amazônia, uma transa amazônica.
[2] “L’espace – et le monde qui se déploie em lui – sont le fruit d’une symbolique, d’une spéculation, qui est aussi miroitement de l’au-délà, et, osons le mot, d’un imaginaire”. Bertrand Westphal, La Géocritique – Réel, Fiction, Espace. Paris, Les Éditions de Minuit, 2007, p. 10.
https://soundcloud.com/eduardo-jorge-393472897/podcast-01-inferno-verdewav/s-49mjJ