Em 1908 é publicada a primeira edição de Inferno verde – Cenas e cenários do Amazonas.[1] Depois de percorrer as mitologias e textos escritos à maneira do mito, é preciso recuperar, por outro viés, esse espaço distante da história – entendida na perspectiva de uma concepção diacrônica e sequencial de fatos – e mais próxima da geografia: o que em geral seria uma distinção entre tempo e espaço. No entanto, o que há em Inferno Verde é um entrecruzamento entre história e geografia, entre camadas de tempo e de espaço. Bertrand Westphal, autor de A geocrítica (La Géocritique – Réel, Fiction, Espace), escreveu que “o espaço – e o mundo que nele se desdobra – é fruto de um simbolismo, de especulação, que é também um vislumbre cintilante do [que está] além e, ousamos dizê-lo, de um mundo imaginário”[2]Textos históricos sobre a Amazônia aos quais pertence Inferno verde desvelam mundos imaginários a partir de um forte contato com a realidade da floresta tropical.
[1] A estrutura da obra é relativamente moderna: são 11 narrativas que podem ser 11 contos ou 11 capítulos de um romance. O que merece ser ressaltado nessa obra é sobretudo a técnica da descrição, a caracterização de personagens simples, de acontecimentos banais e isolados no tempo, mas profundamente abertos e que ainda sobrevivem às estruturas subdesenvolvidas do presente como será discutido posteriormente a partir do filme Amazônia, uma transa amazônica.
[2] “L’espace – et le monde qui se déploie em lui – sont le fruit d’une symbolique, d’une spéculation, qui est aussi miroitement de l’au-délà, et, osons le mot, d’un imaginaire”. Bertrand Westphal, La Géocritique – Réel, Fiction, Espace. Paris, Les Éditions de Minuit, 2007, p. 10.
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