A Amazônia como um território real, imaginário ou híbrido possui uma base utópica no sentido de ser uma invenção que data de quatro séculos e na abertura que o imaginário proporciona em termos de uma orientalização da Amazônia, o que a deixaria duplamente exótica se consideramos uma Amazônia oriental. O argumento se divide em duas partes: a primeira é que a Amazônia é uma invenção que permite uma fabulação híbrida e ramificada. A segunda é que existe uma dimensão oriental que estabelece uma espécie de afinidade com As mil e uma noites. Nessa dimensão histórico-ficcional as noites da floresta são infinitas e não pertencem aos homens que, como podem, se apropriam dessa escuridão pela imaginação e reproduzem as mais diversas histórias. Esses argumentos têm como ponto de partida o livro de Simone de Souza Lima: Amazônia Babel. Línguas, ficção, margens, nomadismos e resíduos utópicos (2014). O estudo mostra que a Amazônia é uma invenção que data do século XVI e que encontra uma cristalização no século XX com três narrativas: A Amazônia Misteriosa, de Gastão Cruls, de 1925; Macunaíma, de Mário de Andrade, de 1928, e Terra de Icamiada, de Abguar Bastos, de 1930. Conforme afirma Simone de Souza Lima, muito embora exista referência ao Relato de Viagem do Frei Gaspar de Carvajal, em viagem pela região entre fevereiro de 1541 a setembro de 1542, a expressão Amazônia, no estudo de Francisco Bento da Silva – com referência à ampla região que hoje dá chão e acolhe vários estados brasileiros é tardia. (p. 25), segundo a autora. Convêm ressaltar que os estudos de Alberto Rangel e Euclides da Cunha também contribuíram para a denominação do espaço amazônico, que foi constituído a partir de um olhar exterior, como afirma a autora: “Não obstante à contribuição do discurso fundador de Carvajal, o termo Amazônia foi sendo forjado com maior força ideológica apenas no final do século 19 e início do século 20, ao que nos parece a partir da contribuição de escritores como Inglês de Sousa, Euclides da Cunha, Alberto Rangel, Peregrino Júnior, José Veríssimo, dentre outros.” (Souza Lima, 2014, p. 25).
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