« O céu pesado e excessivamente azul, as nuvens que parecem despencar em minha cabeça. Meu corpo carregado de chumbo, como se ganhasse novas (e piores) pernas ao voltar mais uma vez para esse fim de mundo. Magno, o motorista, vem chegando para me cumprimentar. Ele abre a porta da picape preta e sorri com aquele ar de Zé Pelintra de fronteira, que eu já não tenho paciência para aturar. Diz que devo resolver o problema do combustível ainda hoje, enquanto ele ainda está à minha disposição para trazer os galões do outro lado da fronteira até a balsa, na beira do rio. Sei que lá os impostos são mais baixos, mas a gasolina também pode ser mais suja. »
Assim começa Rio acima, romance de Pedro Cesarino, literalmente na fronteira. Depois de passarmos por distintas experiências narrativas em Inferno Verde (1908), Xana (1979) e Fordlandia (2009) sabe-se mais ou menos que tipo de personagem aguarda o narrador, o motorista cujo nome é Magno e onde é o local que o narrador chama de “fim de mundo”. O narrador é um antropólogo que desembarca na Amazônia para cumprir uma missão que é encontrar o desfecho de um mito, a história do “pegador de pássaros”. A narrativa de Cesarino começa literalmente na fronteira, que é o título do primeiro capítulo.
Som: A arte dos Marubo. Museu do Índio Botafogo
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