André Masseno

A memória exposta: os alimentos coloniais revisitados em produções artístico-literárias brasileiras

Na América Latina, alguns produtos agrícolas carregam a memória histórica do sistema colonial instaurado na região, alicerçado sobre a economia escravocrata (Luna e Klein, 2010). O açúcar, o tabaco, o algodão e o café foram as principais matérias primas de exportação do Brasil imperial, sendo exibidas inclusive nas feiras universais oitocentistas como sinônimos de progresso da agricultura nos trópicos, enquanto o país buscava invisibilizar o regime escravagista que o sustentava (Pesavento, 1994). Itens como o café e o açúcar ainda conectam memórias de violência, extrativismo e morte. Essa abordagem é latente na escrita das autoras Carolina Maria de Jesus e Helena Silvestre sobre a fome, e na releitura crítica do artista Paulo Nazareth acerca do passado colonial estampado em mercadorias industrializadas. Em um processo situado entre o vestígio e o esquecimento, no qual a memória e a história são formas de recordação (Assmann, 2011), tais produções expõem as ressonâncias do sistema escravocrata na atualidade. Sendo assim, a presente conferência abordará manifestações artístico-literárias que revisitam a história de certos itens agrícolas, seja pela representação escritural da fome ou pelo uso da visualidade como dispositivo estético de denúncia, a fim de expô-los como materialidades-emblemas de extermínio das populações negra e indígena no Brasil.