Cátedra Carlos de Oliveira

Romanisches Seminar - Universität Zürich

Bruna Carvalho

Turismo: investigações em torno de uma escrita inquieta

É já conhecido, ao menos por aqueles que se debruçam sobre a sua obra, o apuro do escritor Carlos de Oliveira com a linguagem (Gusmão, 1981). Seu trabalho com os textos era vagaroso e, como ele mesmo caracterizava-o, era continuamente “feito, desfeito, refeito, rarefeito” (Oliveira, 2004: 183). Em Micropaisagem, texto incluído no heterogêneo livro O Aprendiz de Feiticeiro, de 1971, Oliveira comenta seu gesto de escritura: “O trabalho oficinal é o fulcro sobre que tudo gira. Mesa, papel, caneta, luz elétrica. E horas sobre horas de paciência, consciência profissional” (idem: 185). O constante refazimento e reedição de seus poemas e romances, mesmo aqueles já publicados, conferem à sua obra uma peculiar inquietude, como se cada texto, mesmo hoje, estivesse na iminência de uma transformação. 

Neste ensaio, elejo como paradigmático dessa movência o livro de estreia Turismo. Publicado em 1942, o volume é suprimido pelo autor na coletânea Poesias, de 1962, mas retorna, bastante modificado, em 1976, na antologia Trabalho Poético. Dos 37 longos poemas contidos na primeira edição, restaram 19, todos já imbuídos da brevidade e da concisão que se tornariam marcas do poeta amadurecido (Martelo, 1996). Antes dividido em duas partes – Amazónia Gândara –, em Trabalho Poético, Turismo ganha uma parte antecedente, de abertura, intitulada Infância. Desaparecem sinais gráficos e marcas lexicais que conotavam o entusiasmo revolucionário, comum à sua geração de escritores naquele momento. Também são dissolvidas descrições mais objetivas dos cenários de pobreza e da colonização em favor de vestígios mais subtis das injustiças sociais e desigualdades econômicas, entre outras alterações. 

Para além de mapear as diferenças e semelhanças entre as versões, a ideia é refletir, com o auxílio de Walter Benjamin e Giorgio Agamben, acerca da instabilidade dos escritos de Oliveira – que torna inoperante a própria designação de obra como conjunto fixo e cristalizado no passado.  

Bruna Carolina Carvalho. Doutoranda no Programa de Estudos Literários, Culturais e Interartísticos da Faculdade de Letras da Universidade do Porto, mestre em Memória Social na Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (Unirio) e jornalista formada pela Faculdade Cásper Líbero. Estudante de Letras na Unirio, é autora do livro Glauber Rocha, leitor do Brasil (Lumme Editor, 2021), além de ter poemas e ensaios publicados nas antologias uma pausa na luta (Mórula, 2020), Volta para tua terra (Urutau, 2021) e Juventude, Alegria (Mórula, 2021).

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